Agricultores portugueses protestam em Bruxelas e pedem aos líderes europeus que travem proposta da Comissão
Estima-se que perto de dez mil agricultores se juntem ao protesto desta quinta-feira em Bruxelas, sendo a comitiva francesa, de longe, a mais numerosa.
Os agricultores europeus aproveitaram a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, que hoje se realiza em Bruxelas, para se manifestarem contra a assinatura do acordo do Mercosul, agendada para o próximo sábado. Durante a madrugada, bloquearam as principais vias de acesso à capital belga, tendo sido recebidos, já esta manhã, pelo presidente do Conselho Europeu, António Costa, e a líder da Comissão Europeia.
De Portugal viajou uma comitiva de algumas dezenas de agricultores, que se juntaram ao protesto. Os portugueses estão reconhecidamente a favor do acordo do Mercosul, mas participam na manifestação por se oporem às alterações à arquitetura da Política Agrícola Comum, no quadro de financiamento plurianual para o período pós 2027.
Em Bruxelas, o presidente da CAP, Álvaro Mendonça e Moura, afirmou perante os agricultores que os líderes europeus devem travar esta proposta.
"Parar a Comissão também é responsabilidade dos nossos primeiros-ministros. Não é só uma manifestação contra a proposta, é uma chamada de atenção para os nossos primeiros-ministros dizerem à Comissão para parar e alterar a proposta. Queremos uma agricultura europeia forte, mas precisamos que os primeiros-ministros e o Parlamento Europeu se juntem a nós para travar esta proposta e termos uma agricultura reforçada. É para isso que aqui estamos e vamos sair vitoriosos no fim do dia. Se nos mantivermos unidos, vamos ter uma agricultura mais forte na Europa", sublinhou.
O secretário-geral da CAP, Luís Mira, explicou, em declarações ao Conta Lá, qual é a principal razão deste protesto para os portugueses: “A presidente da Comissão Europeia apresentou um quadro financeiro com um aumento de 40% do orçamento comunitário, mas com um corte de 20% no orçamento da Política Agrícola Comum. Esta é a primeira grande razão do protesto”.
Segundo o secretário-geral da CAP, esta mudança penaliza vários países, nomeadamente Portugal, uma vez que o nosso país não apresenta as mesmas capacidades financeiras de outros Estados-membros como a Alemanha ou a Áustria.
“Enquanto uns podem colocar mais dinheiro do Orçamento do Estado, outros não têm essa possibilidade. Isso quebra o equilíbrio que existia e coloca Portugal em clara desvantagem”, refere.
A CAP alerta ainda para as consequências desta instabilidade, por um lado, na captação de novas gerações para o setor e, por outro, no aumento dos preços dos produtos agrícolas.