Joaquim Conde trocou Toronto pela aldeia de Fontoura e um emprego estável pela agricultura
Quando herdou a “casa” que era dos avós, Joaquim Conde agarrou-se à ideia de que tinha ganhado a sorte grande. A “casa” aparece aqui entre aspas, porque na verdade o que recebeu de herança foi uma “ruína”, numa aldeia recôndita do concelho de Valença.
Ainda assim, foi o bilhete da lotaria que precisava para mudar de vida. Ao fim de 38 anos a viver no Canadá, decidiu regressar ao lugar onde nasceu. "Toronto já não me oferecia qualidade de vida”, conta.
“Na cidade não é fácil perceber qual é a estação do ano em que estamos, verão, outono, primavera, mas no campo é muito fácil identificá-las. Eu senti o apelo da natureza, do mundo rural”, sublinha.
Joaquim acredita que a geração dos avós foi a última a viver de uma forma sustentável e é isso que procura em Fontoura, autossuficiência e sustentabilidade.
Quando chegou “o sítio ainda estava virgem, não havia um único fio elétrico ou tubo de água”, recorda à porta do moderno galinheiro que construiu com materiais comprados na Amazon. “Comecei com três galinhas e um galo e agora tenho 12 cabeças. Tudo criado com o método tradicional, sem incubadoras. Uma graniza, um galo e toca a andar!”, explica-nos.
A conversa é interrompida. Ao fundo, na estrada, ouve-se uma buzina frenética. Aproxima-se uma carrinha branca. “Quarta-feira é dia da peixeira”, avisa Joaquim. Uma dourada e 1,5 kg de lulas. Só falta o acompanhamento, mas para isso tem a horta. Almoço tratado.
Uma casa, uma horta, um projeto de vida
Dois anos depois do regresso a Portugal, a casa já não se parece com uma ruína e o baldio está cultivado. Joaquim vai cada vez menos ao supermercado. “Aqui tenho um bocadinho de tudo”, diz de olhos postos na horta, “couves, rúcula, aipo, beringelas, pepinos, pimentos”. Muita variedade e uma certeza: o que chega ao prato é local e da época. “Quando os alimentos vêm de longe, geralmente não têm sabor”, diz e, enquanto arranca um aipo da terra, acrescenta: “O melhor caldo Maggi é esta planta, isto é um intensificador de sabor natural, da família da salsa!”. Registem a dica. Esta e outras. Estão a anotar?
"Return to Portugal"
Além de agricultor, Joaquim Conde também é produtor de conteúdos. Gosta de partilhar o que a terra lhe ensina. “Return to Portugal” é o nome do canal no Youtube, onde documenta o dia-a-dia no campo.
“Foi uma ideia que começou para mostrar aos meus filhos, que estão no Canadá, o que vou fazendo por aqui. Nunca me passou pela cabeça que um dia ia ter mais de 80 mil subscritores”, confessa, surpreendido com o êxito recente.
“Há muita gente, por essa diáspora, com vontade de voltar e o meu projeto acaba por ser inspirador”, diz. Os conteúdos são gravados em inglês e, por isso, chegam a mais pessoas. O vídeo mais visto tem quase 1,5 milhões de visualizações.
Um homem "fora da caixa"
Joaquim junta os conhecimentos ancestrais à tecnologia moderna. A sabedoria dos velhos agricultores locais ao que lê na internet. Diz que é um homem “fora da caixa”, um agricultor do século XXI. “Lá por viver no campo, ter uma vida mais rural, não quer dizer que não seja confortável. Não me falta nada”, garante.
Quando olha para a terra, Joaquim vê futuro. O passo seguinte é comprar porcos e ovelhas. Depois, quem sabe, talvez consiga convencer o filho, que deixou no Canadá, a seguir-lhe as pisadas. Por vezes, mudar implica começar de novo. Foi assim com Joaquim Conde. Hoje, com 57 anos, colhe o que semeou.
“Não está arrependido da escolha que fez?”, perguntamos. “Apenas de não ter começado mais cedo.”