Investigadoras portuguesas estudam "tecnologia revolucionária" para desvendar crimes sexuais

Projeto a cargo do CapCell, um dos maiores consórcios europeus na área da investigação em medicina legal e genética forense, inclui duas investigadoras do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto.
Mariana Barbosa
Mariana Barbosa Editora-executiva
10 dez. 2025, 07:00

Nádia Pinto e Catarina Xavier, investigadoras do i3S, junto à entrada principal do instituto, no Porto
Fotografia: Nádia Pinto e Cristina Xavier, investigadoras do i3S, no Porto

Nádia Pinto e Catarina Xavier são investigadoras do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S). Neste momento, participam num projeto europeu na área da medicina legal e genética forense, que tem como objetivo criar uma tecnologia de perfilagem de ADN que permita desvendar crimes sexuais, mesmo os mais complexos.

O projeto, a cargo do CapCell, um dos maiores consórcios europeus na área da investigação em medicina legal e genética forense, tem uma verba de 4,5 milhões de euros 

O Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto é uma das 13 instituições participantes. Nádia Pinto e Catarina Xavier, investigadoras do i3S, estão encarregues de analisar e interpretar dados forenses, no âmbito da segurança civil.

Conseguir distinguir o ADN da vítima do ADN do agressor pode ser fundamental para o desfecho de um caso de agressão sexual em tribunal.

Os métodos forenses atuais têm limitações: “Não permitem, por exemplo, analisar vestígios biológicos de mais do que uma pessoa de forma fiável, o que dificulta a apresentação de provas em tribunal”, explica Catarina Xavier. Muitos casos acabam, por isso, arquivados.

O objetivo deste projeto é conseguir separar e ler o ADN de duas ou mais pessoas “de forma limpa e fiável”, descreve a investigadora. “A ideia é fazer uma análise unicelular para garantir que achamos um perfil único, sem misturas biológicas”, ou seja, um meio de prova difícil de refutar perante um juíz.

A nova tecnologia pode permitir resolver casos complexos, em que, até aqui, não se conseguia ter 100% de certeza quanto à identificação do agressor.

 

Crimes sexuais na Europa

De acordo com o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE), um terço das mulheres na UE (31%) indicou ter sido vítima de violência física e/ou sexual por parte de um agressor.

Os resultados desta investigação europeia, com participação portuguesa através do i3S, devem estar concluídos nos próximos quatro anos.

Dos 4,5 milhões de financiamento global, o instituto da Universidade do Porto, vai receber uma fatia de 200 mil euros.

A investigação ainda está numa fase inicial, mas Catarina Xavier tem esperança de que, mais à frente, “os resultados científicos alcançados permitam chegar a uma tecnologia revolucionária na área da genética forense”. Socialmente, a investigadora portuguesa não tem dúvida de que o “impacto pode ser muito positivo”, contribuindo “para uma Europa mais segura”.