Batalha Centro de Cinema: três anos a crescer e a conquistar o público
Num momento em que muitas salas de cinema convencionais tentam recuperar o público que se foi perdendo para as plataformas de streaming ao longo dos últimos anos, o Batalha Centro de Cinema segue o caminho inverso: cresce, diversifica a programação e consolida-se como um polo cultural de grande dinamismo na cidade do Porto.
Foi fundado pela família Neves Real, que ainda hoje se mantém ligada ao projeto, e a primeira exibição cinematográfica ocorreu em 1906. Mas, o edifício tal como o conhecemos, obra modernista do arquiteto Artur Andrade, apenas seria construído na década de 1940.
Com mais de cem anos de história e, depois de mais de duas décadas sem exibir filmes, foi reaberto há precisamente três anos, a 9 de dezembro de 2022, após uma profunda reabilitação. Desde então, voltou a ocupar um lugar central no mapa cultural da cidade. Mais do que uma sala de exibição, apresenta-se como um centro de programação cinematográfica com uma “curadoria fina”, nas palavras da coordenadora de programação, Lídia Queirós, alternativo à lógica dos blockbusters que dominam os cartazes dos cinemas comerciais.
De acordo com Lídia Queirós, esta diversificação é a chave do sucesso: “Nós apresentamos um a dois filmes por dia, no máximo, mas cada sessão torna-se um evento único”.
Segundo dados do Batalha Centro de Cinema, no primeiro semestre de 2025 registou-se um aumento de 32% na média de espectadores por sessão, comparando com o mesmo período em 2024. Traduzido em números, cada sessão do Batalha recebeu, em média, 115 espectadores. O crescimento não é pontual: no segundo ano, já se tinha verificado um aumento de 9% no total de público.
Ao contrário dos cinemas de centros comerciais, nos quais as estreias internacionais ocupam a quase totalidade dos ecrãs e a experiência é semelhante de norte a sul do país, o Batalha aposta numa relação mais próxima com o público, numa identidade própria e numa arquitetura que, por si só, funciona como elemento distintivo.
“Mostramos retrospetivas de autores, programas temáticos, temos programas em continuidade, como é o caso de Seleção Nacional, dedicado ao cinema português, ou os Tesouros de Arquivo, dedicado a filmes recentemente restaurados. É mesmo um tipo de programação muito distinta”, explica Lídia Queirós
A par disso, no Batalha Centro de Cinema existe uma biblioteca e uma filmoteca e aposta-se na realização de performances e atividades, apresentando-se como um local “que está aberto ao público durante todo o dia”.
O crescimento contínuo da audiência sugere que existe na cidade, e talvez no país, um público interessado em cinema para lá das grandes produções comerciais. Lídia Queirós garante que “a programação de cinema é muito transversal e direcionada a diferentes públicos-alvo”.
A coordenadora de programação salienta, ainda, o sucesso da aposta na fidelização do público: “Ebora estejamos a falar de apenas três anos, notamos que já conhecemos algumas pessoas que cá vêm uma e outra vez”.
Desde a reabertura, a coordenadora de programação fala de um balanço positivo e destaca a importância da preservação de um lugar histórico e com uma memória coletiva imensurável: “É muito reconfortante sentir que estamos a dar uma nova vida a um espaço que perdeu a sua função durante tantos anos”.